terça-feira, 10 de agosto de 2010

"Meu sonho era ser músico"

Foto: deolhonacapital
A frase reveladora, título dessa reportagem, não causaria espanto se viesse de um cantor famoso, um sambista da velha guarda ou um compositor talentoso, mas quando ouvimos de um jornalista com mais de 50 anos de profissão nos causa curiosidade. Foi durante uma palestra na Associação Catarinense de Imprensa (ACI), que Roberto Alves falou sobre o sonho de ser cantor, compartilhou sua experiência profissional e contou um pouco dos projetos futuros. Foi como conhecer o outro lado da moeda ou simplesmente a intimidade do apresentador, locutor e repórter esportivo. O jornalista, simpatizante do Fluminense, estava comemorando 52 anos de profissão, não foi à toa que ele foi o convidado de honra da noite.

O auditório da ACI estava lotado, cerca de 40 pessoas, entre jornalistas e estudantes, aguardavam pela chegada do convidado especial. Na mesa, depois de uma breve saudação do vice-presidente da casa, Roger Bitencourt, sentaram o conselheiro Moacir Pereira, o presidente da Associação, Ademir Arnon e o esperado jornalista.
Roberto Alves começou a conversa quebrando o gelo. “Não vou tornar isso aqui numa literatura oratória”. A idéia era interagir com a platéia. Ele iniciou a palestra contando um pouco da sua vida pessoal, sua infância e algumas histórias, que marcaram todos esses anos de carreira.

Alves contou que quando tinha dois anos os pais se separaram. Ele foi criado pela avó, a quem carinhosamente chama de VóGina. Ele aproveita a ambigüidade do nome para arrancar boas risadas do público.

Foto: Marcelo Bittencourt
Com 12 anos, o jornalista queria ser jogador de futebol, mas ele só conseguiu realizar o sonho, por alguns meses, três anos mais tarde. Quando completou 14 anos, Roberto Alves trabalhava numa rádio e carregava roupas de um lado para outro, para ajudar a mãe, que lavava roupas para outras pessoas.

O locutor esportivo só teve o primeiro par de sapatos com 16 anos. Quando começou a jogar, com quinze anos, o treinador o incentivava muito, parecia que ele era o preferido do técnico. Três meses se passaram e Alves descobriu que o homem que o treinava era o causador da separação dos seus pais. O garoto, que sonhava em ser jogador, abandonou tudo quando descobriu a verdade sobre o técnico, isso nas vésperas de um jogo decisivo. Até hoje ele é conhecido por ter jogado a bola propositalmente para o goleiro adversário, mas ninguém imaginava o porquê.

O início

Foi no dia primeiro de abril de mil novecentos e cinqüenta e sete que Roberto Alves começou a carreira de jornalista, no primeiro emprego como sonoplasta em uma rádio. Depois foi contratado pela Rádio Guarujá. Lá ficou por 13 anos, até 1971. Na rádio foi apresentador, redator, rádio-escuta e sonoplasta. Fez de tudo e mais um pouco.

Em 1974, Alves já trabalhava na televisão. Foi convidado para substituir João Saldanha, num programa de esportes apresentado minutos antes do Jornal da Globo. Na época, Alves morou no Rio de Janeiro, mas logo voltou para Florianópolis, para trabalhar na extinta TV Cultura.

De volta à Ilha da Magia, o jornalista cobriu vários acontecimentos importantes, três copas do mundo, a inauguração da ponte, além da Novembrada, ocorrida durante a ditadura militar. Alves relembra que gravaram 30 minutos de imagens. Por conta disso, os militares estavam todos atrás da fita. “Nós falávamos que estava com o ministro, mas não estava nada. Era tudo mentira. Não entregamos as fitas”, relembra. O jornalista conta que passaram por momentos difíceis nessa época, de censura no Brasil. “Quando íamos gravar tinha sempre três sensores dentro do estúdio. Eles não falavam nada, só anotavam”, recorda.

divulgação
Nesses 52 de carreira, Roberto Alves já foi homenageado por diversas vezes. Foi o primeiro jornalista catarinense a ganhar o troféu Bola de Ouro, ganhou por três vezes o troféu Jerônimo Coelho, dentre outros.

Alves também foi governador do estado por um minuto e meio, episódio que conta com muito humor. O fato ocorreu por um incrível engano. Alves estava no carro oficial do governo e sentou no lugar do que era para o governador estar. Na hora de sair do automóvel foi recepcionado como governador e pediram a permissão dele para iniciar a solenidade, tocando o hino nacional. Constrangido e sem saber o que fazer ele permitiu. Só depois da melodia tocada é que foi desfeita a confusão.

Roberto Alves comanda um programa esportivo na CBN Diário, que já está no ar há mais de 12 anos, com uma audiência de 12 mil ouvintes por minuto. No momento não tem projetos para o futuro. Quer apenas descansar, fazer o que não fez a vida toda. Mas ele não quer se aposentar, está apenas se preparando para quando o momento chegar. “Você tem que saber a hora de parar”, reflete.

No final da palestra, depois de responder as dúvidas de alguns convidados, Roberto Alves deixou uma mensagem para todos. “É preciso ter muita seriedade na profissão, responsabilidade. O jornalista deve ser sobre tudo verdadeiro”, finaliza.

Em julho deste anos foi lançado o livro sobre a brilhante trajetória do jornalista, “Dás um banho.

Esta reportagem foi escrita por mim em abril de 2009 e atualizada para o blog. Eu ainda não tive a oportunidade de ler o livro, mas acredito que está recheado de histórias interessantes e inspiradoras.

Até a próxima reportagem.

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